Bruxos de Plantão

por: Padre Joãozinho, scj

Todo ano é a mesma coisa. Os microfones e as câmeras se abrem para os magos do futuro; aqueles que costumam fazer as mesmas previsões de sempre. Já conhecemos a ladainha quase de cor: alguém muito importante vai morrer… Um vulcão vai entrar em erupção… Guerra em alguma parte do mundo… Vai surgir um líder… etc. São feitas previsões tão genéricas que é quase o mesmo que dizer: neste ano o Brasil vai ver surgir um novo artista de TV. Surgem novos artistas todos os dias. Algumas vezes, os jornalistas até colocam os bruxos de plantão diante de um sim-sim, não-não: quem vai ganhar as eleições? O Brasil vai ganhar a copa do mundo? O curioso e que, nesses casos, nunca nos deixam rever as previsões do ano anterior. A maioria não se arrisca. Mas alguns são mais atrevidos e dão o seu palpite. Convenhamos: sempre existe 50% de chance de acertar.

Existe muito de superstição e charlatanice nisso tudo: cartas, moedas jogadas, peneiras e bolas de cristal… Há pessoas que simplesmente não saem de casa sem ler o seu horóscopo. São reféns das previsões. Guiam seus negócios pelos conselhos dos bruxos. Imbecilizam a sua inteligência. Mas atenção: não somosprisioneiros do presente. Vivemos o agora, na expectativa do ainda-não. Somos seres de esperança. Precisamos caminhar para alguma terra prometida, sem nos preocupar demais com o dia de amanhã, conforme o conselho do próprio Jesus.

Pés no chão

Ao invés de seguirmos o caminho fácil e supersticioso das previsões de folhetim, é melhor fazer a leitura dos sinais do tempo presente. Estamos em um país violento, com fome e miséria, desemprego e corrupção. Estamos iniciando uma nova fase com o governo eleito. Precisamos viver intensamente nosso papel de cidadãos e cidadãs. Será um ano de ensaio, debate e participação popular. Não é preciso ser mago para prever essas coisas. Basta ler os sinais. Essas previsões é que deveriam ocupar nossas emissoras de TV. As outras podem servir até de analgésico alienante diante da dor do cotidiano. É fácil sonhar de olhos fechados e com os pés nas nuvens. Mas é tempo de sonhar com os olhos abertos e com os pés no chão.

Pelo Batismo, todos nós devemos ser profetas. Isto é muito diferente do que simplesmente prever fatos. Não se trata de bruxaria sensacionalista. O profeta está comprometido com seu tempo. É um homem do presente. Por isso, pode falar das coisas que latejam no Coração de Deus. São homens e mulheres da esperança. Há profetas na Bíblia. Mas também existem profetas escondidos nas páginas de nossos jornais. Alguns continuam morrendo por causa de sua profecia, que é sempre um perigo para os opressores. Sejamos profetas. E o mundo caminhará para a terra da esperança, da solidariedade e da paz.

Referência: ALMEIDA, João Carlos. Bruxos de Plantão. In Ir ao Povo 77 (2003), São Paulo, p. 18.