Ao uma rápida retrospectiva histórica da vida de Jesus, fixando nosso olhar na infância e na vida adulta do Filho de Deus, notamos que as realidades da vida e da morte se encontram; início e fim se encaram numa eletrizante troca de olhares e forças. Envoltas na vontade de atuar na existência humana finita, elas se esbarram, mas somente uma sairá vencedora na história do Verbo Encarnado. E não será a morte!
Nessa perspectiva, recordemos que Jesus, ao ser enviado pelo Pai a este mundo, já em sua infância, juntamente com José, seu pai adotivo, e Maria, sua mãe, deparou-se com a ameaça de morte, como encontramos na narrativa de Mt 2,14-16. Fugiram às pressas para o Egito, movimento provocado pelo ódio que já se manifestava contra uma criança que, em sua missão de Redentor dos homens, ameaçaria os poderosos daquela época. Era o caso de Herodes, que se esforçou a todo custo para tirar a vida daquele que vida daria aos que encontrasse. Porém, Herodes morreu e Jesus viveu, e esse já era um sinal de que a vida possui uma força avassaladora e divina.
Por outro lado, já na vida adulta, Jesus não precisa mais fugir: pode agora revelar-se como aquele que é a própria vida. Por exemplo, em Jo 11,43, ele contempla com seus olhos a vida que se manifesta na ressurreição de Lázaro, aquele a quem muito amava. Em outro momento, em Lc 7,14, ele transforma as lágrimas da viúva de Naim em alegria, a tristeza em esperança, a dor da perda em riso, e a fonte dessa vida está ali, diante dela: Jesus. De maneira sublime, a morte é vencida pela vida!
É bonito e significativo perceber que, nesses dois acontecimentos, há uma ordem dada por Jesus, com o objetivo de devolver a vida a quem a perdeu. Sua presença revela a postura de quem está atento ao sofrimento acompanhado de fé; sua palavra possui uma força que não conhece limites; sua voz é som que ecoa de tal maneira que a morte não resiste e cede lugar à vida. Assim, aquele que estava morto vem para fora. Após tão grande acontecimento, Jesus pede que desatem as faixas e permitam que Lázaro siga e construa um novo caminho.
Nestes dois exemplos acima, atualizando-os em nossa vida cristã, podemos imaginar quantas vezes nos encontramos desanimados, de tal maneira que nem conseguimos mais desatar as faixas que se tornam barreiras, impedindo que a voz de Jesus chegue até nós. Portanto, é preciso abrir a porta da nossa vida, pedir o auxílio da Virgem Maria e dos santos, mas, indispensavelmente, dispor-nos a estar atentos ao Deus que deseja, em todo tempo e circunstância, ser presença em nossa história.
Neste tempo pascal, em que temos a graça de sermos conduzidos pela sagrada liturgia da Igreja, recordemos que o tempo quaresmal, que o antecede, nos convidou a viver um período de oração, jejum e caridade. Fomos envolvidos pelo silêncio da entrega de uma vida, de um amor que se rebaixou para salvar os seus. Contemplamos, nas leituras das narrativas bíblicas, todo o caminho que conduziu Cristo à cruz, a angústia e a dor vividas por Jesus, o tormento sangrento ao qual foi submetido. Tendo vivido esse tempo em que parecia que a morte venceria e que a história terminaria ali, a ressurreição de Jesus derrota, de uma vez por todas, qualquer possibilidade contrária.
Em Rm 6,8 encontramos a certeza que, até os dias atuais, mantém nossa fé de pé: a morte não o venceu, e com Ele nós também ressuscitamos. Assim sendo, já não há o que temer. Ele nos libertou para que pudéssemos ter vida plena. Não há por que permitir que a tristeza faça morada em nosso coração, se a alegria do Ressuscitado visitou nossa história. Devemos nos sentir homens e mulheres agraciados por termos um Deus ao nosso lado que, ao permitir que o Verbo se encarnasse, vivesse entre nós e morresse, o Pai decidiu ressuscitar aquele que a tantos deu vida, alegria e sentido para viver. Portanto, não vivamos sem vida e vida em Deus; vivamos com o coração agradecido por tão grande dom: nossa existência, cujo valor estava na cruz. Ele morreu, e vida nova nos deu.
Fr. Abraão Chaves, scj
2º ano de Teologia