A história do Convento Sagrado Coração de Jesus, carinhosamente chamado de Conventinho, começou com o convite da Diocese de Taubaté, buscando padres que pudessem aqui exercer o seu ministério, principalmente o magistério acadêmico e a formação presbiteral.
A diocese de Taubaté tinha sido criada por Pio X em 1908. Pouco depois, o bispo fundava o Seminário diocesano, concluído em 1910. Vocações não faltavam. Faltavam, porém, os professores. O problema foi provisoriamente solucionado com a ajuda dos frades capuchinhos do Convento de Santa Clara e os préstimos de monsenhor Antônio do Nascimento Castro (1857-1942), doutor Eusébio Câmara Leal e seu irmão, doutor Gastão Câmara Leal, todos em Taubaté. Em dezembro de 1911 os capuchinhos reorganizaram suas atividades e não puderam mais atuar no Seminário. O bispo, então, buscou alternativas.
Através da pessoa protagonista do bispo de Taubaté, entram em cena um prior trapista e Padre León Dehon. Isto foi pelos fins de 1913, quando o prior dos monges trapista de Tremembé – cidade vizinha de Taubaté - estava de viagem para a Bélgica. O bispo Dom Epaminondas pediu-lhe de alguma congregação religiosa para a direção do seminário. O prior, que conhecia Padre Dehon, fez contato com ele e expôs o problema do bispo de Taubaté. Padre Dehon, sensível à formação do clero, solicitou imediatamente ao superior da Província Alemã que estudasse a proposta. Em vista de uma possível ajuda, o provincial alemão, por sua vez, contactou os padres dehonianos que já estavam no Sul do Brasil desde 1903, tendo já assumido, em outubro de 1904, as paróquias de São Bento do Sul e Brusque, ambas em Santa Catarina.
Após estes importantes trâmites, temos a imprescindível atuação de Padre Pedro Storms SCJ (1879-1961). Este, em março de 1914, então superior regional da Missão Dehoniana no Sul do Brasil, viajava para a Europa a fim de participar do Capítulo Provincial da Província Alemã. Antes do embarque, passou por Taubaté para encontrar-se com Dom Epaminondas e tratar do referido projeto. Chegado à Europa, Padre Storms apresentou a proposta do bispo de Taubaté ao superior alemão. Este ratificou as condições do projeto. Tudo pronto para em breve começar nova missão. Entra uma inesperada coordenadora histórica que impedia a imediata vinda dos dehonianos para Taubaté. A 1º de setembro de 1914 iniciou-se a Primeira Guerra Mundial. Vários religiosos que se encontravam na Alemanha, incumbidos de lecionar no seminário de Taubaté, viram-se impedidos de vir ao Brasil. No fim da Guerra, padre Storms – agora superior provincial na Alemanha (1918-1921) – informou com o bispo de Taubaté se ainda havia interesse na vinda dos padres professores. O bispo respondeu laconicamente: Desejo que os padres venham.
A partir desta resposta lacônica do bispo de Taubaté, o superior regional da Região Missionária Dehoniana – padre Henrique Lindgens – nomeou o então pároco de São Bento do Sul, no interior de Santa Catarina, o doutor e padre Pedro Franken (1880-1919). Este deveria assumir o cargo no início de 1920. Contudo, não chegou a tomar posse, veio a falecer aos 12 de junho de 1919. Mesmo com a morte do padre Franken, o projeto foi levado adiante, sendo nomeado padre Guilherme Thoneick (1878-1959) para assumir a direção do Seminário.
Assim, seguindo orientações do Padre Fundador e do bispo dom Epaminondas, os dehonianos Guilherme Thoneick, Fernando Baumhoff e Luís Cronenbroeck, este como irmão religioso, chegaram a 20 de dezembro de 1919 em Taubaté.
Aos 3 de fevereiro de 1920 os dehonianos assumiram a direção do Seminário diocesano, onde foram professores de teologia e formadores de 1920 a 1924. No final de 1922, os padres compraram uma chácara no bairro do Areão (hoje Vila São Geraldo), e aí, no início de 1924, chegou a funcionar um pequeno seminário. Mas com a abertura de um seminário em Brusque, Santa Catarina, em setembro do ano em curso, esse pequeno grupo de quatro ou cinco vocacionados foi levado para aquele Estado, desvanecendo, assim, o plano de um seminário menor em Taubaté.
Durante o primeiro semestre de 1923 iniciou-se a construção de um pequeno prédio (sobrado) para acolher os padres, irmãos e fratres (escolásticos a caminho do sacerdócio) que formariam a comunidade. Na improvisação dos primeiros tempos, a antiga residência do caseiro foi adaptada em capela e dedicada ao Coração de Jesus.
No dia 30 de novembro de 1923, com a chegada ao Brasil os padres Frederico João Bangder (ecônomo provincial alemão) e de Geraldo Claassen (recém-ordenado), vieram os quatro fratres: Paulo Kremer, Albert Jakobs, José Poggel e Sebastião Rademaker. A vinda desses confrades é um marco histórico importante para nós. Pois, é graças à vinda desses religiosos alemães ainda em processo de formação, que, em 15 de fevereiro de 1924 foi possível iniciar o curso seminarístico de teologia – destinado a fazer história até nossos dias. No ano seguinte, veio mais uma leva de quatro escolásticos da Alemanha para estudar teologia na “Chácara dos Padres”.
No ano passado, em junho de 2023, foi celebrado o centenário do Convento Sagrado Coração de Jesus. Após tantos anos de história, o Conventinho ainda continua cumprindo seu papel na formação de religiosos dehonianos para a missão da Igreja no Brasil e missões ad extra. Poucos meses depois, em fevereiro de 2024, a Faculdade Dehoniana, antigo Instituto Teológico Sagrado Coração de Jesus, também completou seu centenário, fazendo memória da primeira aula de Teologia, ministrada em 15 de fevereiro de 2024.
Os religiosos dehonianos continuam a ajudar na formação religiosa e presbiteral das dioceses circunvizinhas. A missão solicitada pelo bispo de Taubaté há mais de cem anos continua a ser cumprida com maestria por tantos religiosos que se doam neste belo lugar, chamado de Conventinho. Além dos religiosos, vale uma especial menção a todos os leigos que nunca mediram esforços em colaborar e apoiar esta grande obra de evangelização.
Fr. João Pedro Kuberesky, scj
Texto baseado nas anotações pessoais do Pe. José Francisco Schmitt, scj (in memoriam)