6º DOMINGO DO TEMPO PASCAL

6º DOMINGO DO TEMPO PASCAL

LITURGIA DA PALAVRA

1ª Leitura: At 8,5-8.14-17

Salmo responsorial: Sl 66 (65)

2ª Leitura: 1Pd 3,15-18

Evangelho: Jo 14,15-21

 

O 6º Domingo do Tempo Pascal continua no Evangelho a meditação sobre as “palavras de despedida de Jesus” (Jo 14–17). Se nos primeiros domingos da Páscoa os discípulos e nós formos confirmados na fé pelas aparições do ressuscitado, desde o domingo precedente, Jesus começa a preparar os seus e a nós para a sua “ausência”, ou seja, a ascensão à direita do Pai e o envio do Espírito Santo em Pentecostes.

É introduzido de forma mais evidente o tema do Espírito Santo. Na passagem que neste domingo proclamamos na Liturgia, podemos dividi-la em duas partes que se complementam: a primeira, a promessa do envio do Espírito da Verdade (vv. 15-17) e na segunda parte a promessa da presença contínua de Jesus na comunidade (vv. 18-21).

No início do Evangelho de hoje, no v. 15, há uma profunda advertência: “se me amais, cumprireis os meus mandamentos”. Jesus aqui demonstra aos seus e a nós que o primeiro passo no caminho da vida cristã é da fé que culmina no amor. É necessário identificar-se com Jesus, amá-lo, para que este amor não se torne uma exigência, mas uma força interior do Espírito. Este mandamento que Jesus pede para cumprir não se identifica em minúcias no Evangelho, pois para a comunidade do discípulo amado, há um só mandamento: o mandamento do amor. O amor à Jesus e a identificação com o seu projeto de vida, traz em si um impulso interior de “amar os outros como ele amou”!

Em sua “despedida”, ou seja, nas palavras que preparam os discípulos para sua partida para junto do Pai ele promete o “Espírito Defensor”. Jesus enquanto esteve com os seus, ensinou-os e defendeu-os. De agora em diante será o Espírito Santo a caminhar com eles, defendendo-os e protegendo-os. Ele é também o “Espírito da Verdade”. Ele comunica a Verdade que é o próprio Jesus, sua vida de amor, e a verdade sobre nós mesmos, que é viver o projeto de amor de Jesus. É ele que nos capacita a viver a vida divina no quotidiano. Em síntese, podemos afirmar: Jesus é a Verdade (Jo 14,6), como proclamamos no domingo passado, e o Espírito é a força que nos leva à Verdade que é Jesus.

Jesus no versículo 18 reafirma que “não nos deixará órfãos ou desamparados”! O “mundo” entendido no sentido pejorativo de vida injusta ou de mentira, este sim não terá mais a capacidade de vê-lo. Mas, aquele que está em comunhão com o Pai e com Jesus poderá vê-lo e contemplá-lo. A comunhão de vida com Jesus permite ao discípulo “vê-lo”; isto porque viver no Espírito, do qual Jesus é pleno participante, permite ao cristão ter uma tal intimidade, capaz de vê-lo com um olhar profundo, que é o “olhar da fé”!

Como nos diz o v. 20: “naquele dia sabereis que eu estou no meu Pai e vós em mim e eu em vós”! Jesus não mais presente em forma corpórea, continua presente na nossa vida interior e na comunidade. O Espírito Santo que procede do Pai e que Jesus comunica aos seus discípulos e a nós, faz em primeiro lugar conhecer que o Pai e Jesus são um (Jo 10,30), e que eles, e nós agora, na comunhão do mesmo Espírito estamos inteiramente com Jesus.

E para finalizar a passagem do evangelho deste domingo, o último versículo retoma o primeiro, mas apenas inverte a ordem: “quem acolheu os meus mandamentos e os observa, este me ama”! Os discípulos e nós hoje devemos fazer dos mandamentos, ou do mandamento do amor de Jesus, os nossos mandamentos e cumpri-los. O amor não pode ser somente um sentimento interior, mas deve manifestar-se visivelmente: o Espírito nos dá a força de concretizá-lo no nosso dia-a-dia.

Na primeira leitura do livro dos Atos dos Apóstolos, nos é apresentado um grande missionário, Filipe, um dos sete diáconos, que fora ordenado pelos apóstolos, para o serviço da caridade. A caridade não se resume no serviço assistencial, importante, sobretudo neste tempo que estamos vivendo. A caridade é também serviço à Palavra.

Nos primeiros domingos do Tempo Pascal a primeira leitura dos Atos dos Apóstolos nos situou nas bases essenciais da vida cristã em comunidade. No segundo domingo (At 2,42-47) meditamos os primeiros cristãos perseverantes na doutrina da Igreja Apostólica, na Fraternidade, na Eucaristia e na Oração: bases permanentes para uma vida em comunidade com o Ressuscitado! No terceiro domingo (At 2,14.22-33), Pedro no dia de Pentecostes apresenta o grande querigma da Igreja, a Ressurreição de Cristo, atestada pelo Espírito, experimentada pelas testemunhas presentes e interpretada pela Escritura: fundamento da fé de todo cristão! No quarto domingo (At 2,14a.36-41), Pedro continua sua pregação demonstrando que o anúncio da boa-nova da Ressurreição de Jesus exige de cada um a conversão: realidade inerente para quem quer seguir Jesus! No quinto domingo (At 6,1-7), a abertura da Igreja aos helenistas, com a eleição dos sete diáconos, aponta para a missão fundamental da Igreja: o anúncio e o serviço universal da caridade cristã.

Neste 6º domingo do Tempo Pascal, percorremos o caminho da Igreja em expansão, agora pelo território da Samaria que acolhe a Boa-Nova da Ressurreição proclamada pelo diácono Filipe. A multidão adere à fé, muitos sinais do Reino acontecem, como curas e exorcismos. Os Apóstolos Pedro e João, sabendo da notícia de que os samaritanos haviam acolhido a Palavra acorreram até lá para impor as mãos aos batizados, para que eles recebessem o Espírito Santo (At 8,14). Assim, o texto de Atos nos faz compreender que a vida cristã não é simplesmente uma reunião de pessoas em torno da pessoa de Jesus, mas participação na sua vida, que é a vida no Espírito Santo. É o Espírito da vida nova, da comunhão e da missão. Podemos dizer com o Pe. Johan Konings que, se a Páscoa é o tempo propício para o Batismo, a festa de Pentecostes, que se aproxima, é o momento propício para a crisma. Desta forma, os apóstolos, predecessores dos bispos, completam e “confirmam” o batismo.

Desta forma, a liturgia deste domingo aprofunda o significado da Ressurreição de Jesus, que não é apenas um exemplo de vida divina a ser contemplado, mas uma realidade que atinge a todos nós. Isto porque a Ressurreição de Cristo é comunicação do seu Espírito a cada um de nós: é vida nova, sabedoria, ardor pelo Reino, amor. Como bem nos lembra a Oração Eucarística IV: “Cristo não viveu para si. Ele Ressuscitou por nós”!

A segunda leitura que proclamamos neste ano A da Liturgia é retirada da Carta de São Pedro. No ano B a segunda leitura do Tempo Pascal é sempre proclamada da 1João; no ano C algumas passagens do livro do Apocalipse.

A leitura do texto de São Pedro exorta os fiéis a “estar sempre prontos a dar razão de sua esperança”. Significa que o testemunho dado é “sobre a esperança que vive em nós”. No fundo, ser cristão é viver da esperança! Ter a certeza que Cristo está presente, na esperança da vida ainda mais plena que Cristo nos concederá na Ressurreição.

Os cristãos para os quais Pedro escreve vivem perseguidos pelo Império e pela cultura pagã. Muitos são difamados e desprezados. Pedro os exorta a não reagirem com raiva e agressividade. O conselho de Pedro é que os cristãos deem um testemunho com mansidão. Isto porque é melhor sofrer praticando o bem, se esta for a vontade de Deus, do que praticando o mal. O fiel que está no caminho com Cristo, de qualquer forma entra em conflito com o mundo e os seus valores. Não deve ceder à pressão do “mundo”, mas perseverar na fidelidade à Deus, com um autêntico testemunho de esperança, de amor, de mansidão e comunhão.

Eu creio que nós e o mundo todo tem muito a aprender com a Palavra de Deus neste tempo em que estamos vivendo. Muitas vezes percebemos que o ódio e a difamação imperam sobre o amor e a união; uma esperança cega depositada em pessoas que não deixam prioridade para Deus; muitos esquecem da oração, de cultivar valores familiares, de viver na comunhão da comunidade, para dar espaço unicamente ao “diz que diz” das polêmicas de interesses e jogos de poder.

Todo nosso esforço de superação, de vitória, de confiança na capacidade humana de resolver os diversos problemas, inclusive a pandemia deve ser iluminada pelo Alto, pelo Espírito do Ressuscitado, que nos coloca no equilíbrio e na sensatez de encontrar um caminho justo e digno para todos!

Sinto muito pelos que perderam suas vidas e famílias em luto. Que este tempo nos ajude ao menos a rever certos valores distorcidos, certas posturas políticas, e como sempre reitera o Papa Francisco: que o mundo possa rever a ansiedade desmedida, de muitas vezes colocar as coisas materiais acima dos valores da dignidade da vida das pessoas!

Abençoado domingo

Pe. Claudio Roberto Buss,scj

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