HOMILIA DA SOLENIDADE DE PENTECOSTES – ANO A

 

Caros irmãos e irmãs em Cristo Jesus! Paz e Bem!

 

Com a Celebração da Solenidade de Pentecostes, cinquenta dias após a Páscoa, se realiza de forma plena o Mistério da Páscoa de Cristo. A Páscoa que nos fez participar da vida nova do Ressuscitado se completa com o dom do Espírito Santo, continuador da obra de Cristo em nossas vidas.

A oração da coleta nos insere diretamente no coração do sentido da Solenidade de Pentecostes: “Deus eterno e todo poderoso, quisestes que o mistério pascal se completasse durante cinquenta dias, até a vinda do Espírito Santo. Fazei que todas as nações dispersas pela terra, na diversidade de suas línguas, se unam no louvor do vosso nome”.

A Liturgia da Palavra ilumina abundantemente esta Solenidade celebrada na vida da Igreja:

A primeira leitura do livro dos Atos dos Apóstolos no capítulo segundo se compõe de duas partes: a primeira (vv. 1-4) fala do dom do Espírito Santo como cumprimento da promessa de Jesus, já abundantemente proclamada nos textos evangélicos do Tempo Pascal; a segunda (vv. 5-13) a reunião das nações sob o sinal da unidade.

Para entender melhor este texto é preciso lembrar que no quinquagésimo dia após a celebração pascal, no Antigo Testamento, se comemorava a Aliança do Sinai entre Deus e Israel (Ex 19–24). Neste dia se reuniam em Jerusalém multidões de judeus vindos de numerosos países.

Agora, o envio do Espírito Santo por parte do Ressuscitado realiza a “Nova Aliança” de Deus com o seu povo. Se no evento de Pentecostes se manifesta a Igreja, essa se mostra como sinal visível dessa aliança que se cumpre por meio da efusão do Espírito.

Olhando o texto mais de perto, percebemos que o dia de Pentecostes é o momento do cumprimento da obra salvífica de Cristo. Lucas evidencia isso com expressões que indicam plenitude: “no completar-se do dia de Pentecostes” / “encheu-se a casa” / “todos ficaram cheios do Espírito Santo”. O tempo da plenitude chegou e o plano de Deus está no caminho da sua perfeição.

A vinda do Espírito Santo é apresentada com os traços de uma “teofania bíblica” (manifestação de Deus) como no Antigo Testamento, para indicar que Deus está agindo, semelhante a Êxodo 19, no momento da Aliança do Sinai. O vento que sopra indica a força divina em sua dimensão irresistível e as línguas de fogo é sinal da presença do Altíssimo.

No segundo momento do texto (vv. 5-13), como já acenado, judeus de todas as nações vem até Jerusalém para Pentecostes. A ação do Espírito Santo concretiza a unidade, pelo fato de que todos os romeiros que se encontram em Jerusalém entendem o anúncio dos apóstolos, aceitando-o e começando a fazer parte da grande família da Igreja, na qual não existe mais barreiras impostas pelas raças, línguas ou culturas. Desta forma, se reverte a tendência a dispersão que caracteriza toda a história do povo de Israel e a “dispersão de Babel”, onde havia confusão das línguas (Gn 11).

É a Igreja que nasce sob o sinal da unidade: todos os judeus reunidos ao redor dos apóstolos na festa de Pentecostes. No caminho do livro dos Atos dos Apóstolos esta unidade inicial aponta para o futuro, mostrando o fruto da missão da Igreja. Indica que todos os povos, tanto judeus, como pagãos, são chamados a fazer parte da comunidade cristã, participando da mesma fé em Jesus ressuscitado.

Vemos, portanto, que o Espírito é a verdadeira força de coesão entre as pessoas. O poder humano divide e oprime, sem gerar unidade. Em Pentecostes, ao contrário, cada um compreende o outro na sua própria língua. A Igreja nasce como lugar onde é possível o diálogo, onde é valorizada a unidade na diversidade. Desta forma, segundo a promessa profética, realiza-se o início de uma nova humanidade.

A segunda leitura da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios nos mostra a Igreja, como comunidade, corpo de Cristo, que tem como alma o Espírito Santo. O Espírito manifesta-se de forma ativa e eficaz na Igreja através de ministérios, dons e carismas. Todos os cristãos são imbuídos de dons e carismas do Espírito para o bem comum, ordenados não para benefício próprio, mas para o crescimento do Corpo de Cristo e para a continuidade da missão evangelizadora.

A Igreja é como um corpo, diz São Paulo, que tem diversidade de membros, e todos estes colaboram para o bem e o bom funcionamento do corpo. Na Igreja, Corpo de Cristo, não há carismas ou dons menores, pois todos são importantes, e dados diversamente aos fiéis, sem discriminação, com o único intuito, o bem de todos. “Nós fomos batizados num único Espírito, para formarmos um só corpo…” (v. 13). Na Igreja, se deveria, portanto, evitar divisão, autoritarismo, atitudes orgulhosas, desentendimentos…

O Evangelho escolhido pela Igreja, para este dia de Pentecostes é de João 20,19-23. Logo ao início, a menção do “primeiro dia da semana”, demonstra que os cristãos já nos primórdios dedicavam o “primeiro dia” à memória do Ressuscitado. Neste dia em que estão reunidos “as portas estavam fechadas/ trancadas”. Personifica o medo dos discípulos depois da partida do Mestre. Sentiam-se abandonados, sem rumo, sem sentido…!

De repente o Senhor entra e se “coloca no meio deles” e diz: “a Paz esteja convosco”! Esta Paz é repetida insistentemente por mais duas vezes (v. 21 e 26). Enfaticamente o evangelho diz que eles se “alegraram por verem o Senhor” (v. 20). A paz e a alegria são frutos da presença do Ressuscitado, que realiza as promessas que Jesus havia feito antes da sua partida: eles haveriam de revê-lo (Jo 14,19); isto lhes encheria de alegria (Jo 16,21s), e ele lhes daria a sua paz (Jo 14,27).

Jesus mostra a eles “as mãos e o lado”: há uma profunda identidade entre o crucificado e o ressuscitado. É preciso com que os discípulos recordem o sentido da cruz, e que no caminho da evangelização, muitas serão as cruzes que carregarão e outras que terão que abrandar, levando consigo, no mistério da vida, a graça da salvação a todos!

Lembremo-nos do grande discurso de despedida de Jesus, proclamado nos últimos domingos, onde Ele insistentemente encorajou a missão dos discípulos após sua partida. Agora é chegado o momento, e Ele os envia: “como o Pai me enviou, eu também vos envio”! E com um gesto que lembra a ação de Deus na criação, Jesus sopra sobre eles o Espírito Santo: “Recebei o Espírito Santo”! Não é um simples carisma, ou um dom a mais que eles recebem. É o sopro divino, a vida nova do Ressuscitado! A grosso modo pode-se dizer: “a vida para os discípulos tem outra força que antes”!

Jesus concede a eles também a graça de “dar o perdão”. Isto quer dizer que, os discípulos devem continuar nos caminhos da história a obra salvadora de Jesus. A Igreja deve ser sinal do verdadeiro “espírito de perdão e unidade no mundo”!

Na chamada Sequência de Pentecostes, proclamada após a segunda leitura, se canta o antigo hino Veni Creator Spiritus. Nele nos inspiramos para orar no Espírito, pois o Espírito Santo é a alma da Igreja, o calor de nossa fé e de nossa comunhão eclesial.

E com a beleza do Salmo 103, um hino ao Espírito criador da vida, renovamos nossos corações com o dom por excelência da Páscoa: o Espírito do Ressuscitado.

Vem, ó Santo Espírito, doce hóspede da alma, companheiro inseparável, consolador perfeito e conselheiro admirável!

Quanta Luz, Força, Paz, Amor está presente em nós pelo Espírito que nos foi concedido.

 

Abençoada Solenidade de Pentecostes a todos(as)!

 

Pe. Claudio Roberto Buss,scj

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