REFLEXÃO DA SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE – ANO A

 

Liturgia da Palavra:

1ª Leitura: Ex 34,4b-6.8-9

Salmo Responsorial: Dn 3

2ª Leitura: 2Cor 13,11-13

Evangelho: Jo 3,16-18

Caros irmãos e irmãs em Cristo!

Ao término da caminhada do Tempo Pascal com a Solenidade de Pentecostes, celebrada no domingo passado, a Igreja retoma o caminho ordinário da liturgia, ou como costumamos dizer, o “Tempo Comum”. A Igreja, de forma muito sábia, no domingo após Pentecostes, nos presenteia com a celebração da Solenidade da Santíssima Trindade.

O fato de que esta festa seja celebrada logo no domingo depois de Pentecostes tem a intenção de fazer um “olhar retrospectivo” sobre todo o cumprimento e a realização salvífica que nos foi presenteada durante o Tempo Pascal. Todo este mistério salvífico celebrado e vivido com intensidade foi realizado pelo Pai, através do Filho, no Espírito Santo.

Todos os anos a Liturgia da Palavra do Domingo da Santíssima Trindade possui uma tônica diferente, revelando através da diversidade dos textos escolhidos pela Igreja o mistério inesgotável do Deus Uno e Trino. No Ano A, que estamos agora celebrando, a Trindade é apresentada como comunidade de amor que se revela na misericórdia. No Ano B a liturgia sublinha a ação salvífica das três pessoas divinas em favor de todo o povo de Deus; e no Ano C, o mistério da Trindade nos é apresentado em seu aspecto histórico-salvífico, pedagogicamente, para que todos possam ter acesso a verdade revelada.

Iniciamos nossa reflexão com a Primeira Leitura proclamada do Livro do Êxodo. A passagem deste texto faz parte de um contexto maior, ou seja, dos capítulos 32–34. Estes, por sua vez, nos apresentam uma reflexão sobre a aliança que o povo rompeu com o Senhor, pelo fato de ter construído “um deus à sua imagem e semelhança”, ou seja, um ‘bezerro de ouro’. Se lemos estes capítulos, ou mesmo se não temos oportunidade e tempo de ler por completo, a breve passagem de Ex 32,10 nos demonstra que esta atitude do povo fez acender a cólera de Deus. Então, Moisés posteriormente intercede pelo povo (Ex 32,11-13) e o convida à penitência (Ex 33,4-6).

O texto deste domingo (Ex 34,4b-6.8-9) é como o desfecho desta história. Moisés sobe à Montanha Sagrada, lugar de encontro com Deus; o Senhor desce “na nuvem”, mistério insondável, ao encontro de Moisés. “É o encontro entre Deus e o homem”. Lembramos aqui o início do Documento sobre a Revelação Divina do Concílio Vaticano II, Dei Verbum: “…aprouve a Deus na sua bondade e sabedoria, revelar-se a si mesmo, e tornar conhecido o mistério de sua vontade…”

Neste texto da Primeira Leitura, o versículo 6 de forma especial, mostra que Moisés proclama o “ser de Deus”: Senhor, Senhor…! Quem é este Deus? Poderíamos nos perguntar! Então, nossa sabedoria e nosso coração se voltam ao início do Livro do Êxodo, quando Moisés diz: qual é o teu nome? E Deus fala: “Eu sou Aquele que Sou”! (Ex 3,13-14). Deus é o mistério grandioso, impronunciável, “o nome que está acima de qualquer outro nome”. Na tradução das nossas bíblias, no Antigo Testamento, ousamos, portanto, chama-lo de ‘Senhor’, como fez Moisés.

Na Continuação no mesmo versículo 6 do capítulo 34, segunda parte da leitura, abre-se as qualidades do seu agir de Deus: “é misericordioso, clemente, paciente, compassivo, rico em bondade e fiel”! Se não o conhecemos na sua intimidade, o conhecemos como ele se revelou na história do povo da Aliança, Israel, e depois de forma plena em Jesus Cristo! Diante Dele, devemos ter a mesma atitude de Moisés (Ex 34,8): “curvar-nos até o chão, prostrando-nos por terra, invocando o seu perdão e sobretudo, para que ele nos acolha como propriedade Sua” (vv. 8-9).

O Evangelho proclamado nesta Solenidade é de Jo 3,16-18. O texto está inserido no contexto do diálogo de Jesus com o fariseu Nicodemos. A escolha deste texto para este domingo é apropriada, sobretudo pelo versículo 16: “Deus amou tanto o mundo, que Deus seu Filho unigênito…”. A iniciativa é do Pai, que envia à humanidade o seu maior dom: seu Filho, Jesus Cristo! Poderíamos ainda fazer um paralelo com a história de Abraão em Gênesis 22, capaz de desprender-se de seu maior tesouro: seu próprio filho. E aqui podemos notar um detalhe, que não está propriamente no texto, mas no conhecimento das tradições judaicas. De acordo com estas tradições, o sacrifício de Isaac ocorreu no momento em que se imolavam os cordeiros para a Páscoa; Jesus, o Filho Único do Pai, ofereceu-se em sacrifício, de acordo com as tradições evangélicas, no dia em que se imolavam os cordeiros para a Páscoa. Enfim, para dizer, que a história de Deus com a humanidade é uma história de amor, assim como é o próprio ser de Deus.

E temos ainda que sublinhar que, o desígnio do amor de Deus, não só foi ter dado seu Filho Único à humanidade, como gesto e sacrifício de amor. O dom do amor perfeito, que une o Pai e o Filho, em perfeita comunhão de vida, foi oferecido através da ressurreição de Cristo à humanidade: o Espírito Santo. “O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5). Tudo isso, não para julgar o certo e o errado do que fazemos em primeiro lugar, mas para nossa salvação e vida eterna.

A Segunda Leitura (2Cor 13,11-13) contempla os últimos versículos da Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios. No versículo 13 temos a mais clara fórmula trinitária do Novo Testamento, proclamada na liturgia desde os primórdios do cristianismo: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus Pai, e a comunhão do Espírito Santo estejam com todas vós”. Poderíamos de alguma forma dizer em outras palavras: o amor do Pai se manifesta na graça (dom) de Jesus Cristo e opera hoje da Igreja pelo Espírito Santo. Importante ainda observar que esta fórmula litúrgica de 2Cor 13,13 é utilizada nos ritos iniciais da Celebração Eucarística, na saudação inicial.

Na mesma Carta de Paulo, retrocedendo um pouco, o versículo 12 pede que os fiéis se saúdem com um ósculo santo, gesto significativo e frequente nas primeiras comunidades cristãs. Significa um sinal de fraternidade e comunhão entre os fiéis, imagem da vida trinitária.

Enfim, para sintetizar todo o percurso realizado, o prefácio, da missa da Santíssima Trindade proclama a verdade da fé que estamos celebrando: “…três pessoas em um Deus, da mesma natureza e igual majestade”.

A experiência de Deus, autenticamente cristã, que fazemos é Trinitária. Isto porque conhecemos e experimentamos Deus através daquilo que Ele é: “Deus é Amor” (1Jo 4,8.16). O amor não é egoísta, e não visa o bem próprio, mas é comunhão e comunicação de vida, como Deus o é! Como pessoas à imagem e semelhança de Deus, valorizemos sobretudo, nas nossas relações quotidianas com as pessoas: o amor, a comunhão, o bem, a doação!

Deixemos no coração de quem encontramos pelo nosso caminho rastros da Trindade, ou seja, sinais do divino amor.

 

Abençoada Solenidade da Santíssima Trindade!

Pe. Claudio Roberto Buss,scj

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