REFLEXÃO DO 12º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A

Liturgia da Palavra:

1ª Leitura: Jr 20,10-13

Salmo Responsorial: Sl 69 (68)

2ª Leitura: Rm 5,12-15

Evangelho: Mt 10,26-33

 

Caros irmãos e irmãs em Cristo!

A Primeira Leitura deste domingo é uma parte da assim chamada “Confissões do Profeta Jeremias”. Assim denominada, porque no livro escutamos a voz íntima do profeta, através de “cinco confissões”, espalhadas ao longo do texto (entre os cap. 11–20), de um homem cansado, desiludido, que exprime seus fracassos.

É a história de uma vocação profética! Jeremias um dia se deu conta que “antes de ser modelado no ventre de sua mãe, Deus já o havia conhecido, consagrado e chamado para anunciar e denunciar em Seu nome” (cf. Jr 1,5). E assim, certamente, Jeremias pensou a sua missão: um Deus cheio de bondade e misericórdia que não deixaria jamais que ele fosse difamado, ou caísse na armadilha mentirosas de seus inimigos! Mas, logo, este jovem profeta, com traços de delicadeza no trato com as pessoas e com uma personalidade tímida, é convidado por Deus “para arrancar e para destruir, para exterminar e para demolir, para construir e para plantar” (cf. Jr 1,10). Como conjugar tão alta missão, que exige força, coragem, determinação, com uma personalidade tão frágil?

Jeremias, em suas “confissões interiores”, exprime do mais profundo da sua alma expressões belíssimas, como no início do capítulo 20: “Seduziste-me, Senhor, e eu me deixei seduzir” (Jr 20,1). Mas, também abre o coração à Deus diante do mistério da vida, feita de belezas, mas também de fracassos e cansaços: “Não quero mais lembrar de ti Senhor, já não quero mais falar em teu Nome […]. Estou cansado de suportar, não aguento mais” (Jr 20,9).

Mesmo ‘cansado e desanimado’ o  Senhor pede a Jeremias que anuncie a destruição de Jerusalém e do Templo pelo exército dominador da Babilônia, por causa das iniquidades do povo e dos seus dirigentes. Neste quadro entendemos a Primeira Leitura de hoje. O profeta vem acusado duramente pelas suas palavras e calúnias são ditas contra ele: “eu ouvi as injúrias de tantos homens […] Denunciai-o, denunciemo-lo. Todos os meus amigos observam minhas falhas, para que eu seja caluniado” (Jr 20,10). Este primeiro versículo da leitura de hoje revela que ‘tantos homens’ e mesmo ‘seus amigos’ o perseguem e querem sua destruição.

Em meio a este momento de “amarga solidão”, Jeremias descobre a amizade e a proximidade de Deus para com ele: “o Senhor está ao meu lado, como forte guerreiro” (Jr 20,11). Lembra uma outra passagem do livro, na “segunda confissão”: eles combaterão contra ti, mas não vencerão, porque eu estou contigo para salvar-te e libertar-te (Jr 15,20). Jeremias precisou passar por dias difíceis, como que para purificar a sua fé, e assim demonstrar a sua autenticidade da sua vocação. *Importante sublinhar que o texto fala de “vingança”, algo que não soa bem ao coração de um cristão. Mas, temos que observar que o texto não fala da vingança de Jeremias contra seus inimigos. Ele deixa isto para o Senhor, que ‘sabe do verdadeiro sentimento e do coração do justo e do ímpio’! O último versículo da leitura (Jr 20,13) dá ainda um passo ulterior: a passagem de um Jeremias desiludido, para um homem de coração agradecido, porque sabe que Deus tardou, mas não falhou, escutou a sua voz (v. 13)!

O Evangelho deste domingo faz parte do “Discurso Missionário” de Jesus aos discípulos (o bloco: Mt 9,35–11,1). Depois de constituir os Doze como Apóstolos e lhes conferir a missão de servir, Jesus lhes dá recomendações. No texto de hoje de Mt 10,26-33 são três exortações, introduzidas pela fórmula ‘Não tenham medo…”.  A ligação entre a Primeira Leitura de hoje e o Evangelho é que o Senhor mesmo, nas situações difíceis da vida, consola, anima e garante a sua fidelidade! O discípulo não deve temer adversários e caluniadores; antes, deve confiar na Fidelidade Divina e anunciar o Reino com coragem e publicamente.

No v. 26 encontramos a primeira exortação: “Não tenhais medo…”: ao invés do medo que paralisa a vida, o verdadeiro discípulo é o que tem a coragem de proclamar! O que está ‘encoberto e secreto’ deve ser proclamado à luz do dia, publicamente. Recorda-se aqui a metáfora da Luz que deve iluminar todos os homens (Mt 5,14-16).

A segunda exortação “Não temais…”, que inicia no v. 28, não se centra na proclamação da mensagem, mas nos Mensageiros. Eles não devem temer quem pode matar o corpo, mas quem pode matar o corpo e destruir a alma. Nem a morte, nem o martírio se deve temer de forma desmesurada. Isto porque a morte do corpo não representa o fim definitivo da vida. Quem está em Cristo, pode confiar na sua fidelidade providente; e no juízo depois da morte, a garantia de ser acolhido com o testemunho do próprio Cristo! Após esta segunda recomendação, se abre aos nossos olhos a imagem do ‘Deus carinhoso e cuidadoso para com seus discípulos’ (vv. 29-31)

A última exortação “Não temais…” no v. 29, inicia com a imagem de simples pássaros, como os pardais, para demonstrar o verdadeiro valor de cada discípulo: ‘vós sois mais valiosos que muitos pardais’! Somos valiosos aos olhos do Senhor, mas Ele exige lealdade dos discípulos: não se deve ter medo de confessar seu Nome, ou melhor dizendo, não se deve temer ser fiel na proclamação do Evangelho, na missão e mesmo no martírio. É preciso assumir a responsabilidade e as consequências do testemunho. Este percurso que Jesus nos mostra e a respeito do qual ele nos pede testemunho, é o caminho da vida. Não podemos diante do mundo professar o contrário, pois estaríamos negando ‘a vida’ que um dia Cristo já iniciou em nós!

Na Segunda Leitura, da Epístola aos Romanos, continua, como no domingo precedente, a meditação sobre a revelação do amor salvador de Deus, tema central da Carta de São Paulo. Proclamamos uma das páginas mais belas, revisitadas e comentada das Cartas de Paulo. Nesta página Santo Agostinho fundamentou de forma Escriturística a doutrina do pecado original. Mas, à parte desta questão, o texto focaliza o confronto entre Adão e Cristo, e mostra a superioridade deste (Cristo). Na verdade, a temática se centra em Cristo e na sua obra salvadora; e só a partir desta é que Adão é apresentado, como forma de demonstrar como o pecado entrou no mundo e com ele a morte. Isto porque o pecado separa o ser humano de Deus. Esta separação causa a morte espiritual. Jesus Cristo, com sua obediência ao Pai, oferece a todos nós um novo modo de ser e viver. Ele que não foi enviado somente para ‘destruir o pecado’, mas para doar a todas as pessoas a graça e a vida nova no Espírito.

Talvez possamos finalizar parafraseando de alguma forma a intuição do Pe. Konings ao interpretar a centralidade da Liturgia deste final de semana: “É melhor morrer em solidariedade, amor, fé e no anúncio de Cristo, do que viver separado Dele”.

O Salmo eleva nosso coração em oração aos céus:

“Elevo ao Senhor minha oração, neste tempo favorável; respondei-me pelo vosso imenso amor, pela vossa salvação que nunca falha” (Sl 68).

Abençoado domingo a todos (as)!

Pe. Claudio Roberto Buss,scj

Baixar a homília

 

 

 

 

Posted in Pe. Claudio Buss, scj.

One Comment

  1. Obrigada padre Cláudio por partilhar conosco seus conhecimentos ❤ que Deus lhe conceda cada dia mais SABEDORIA.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *