REFLEXÃO DO 14º DOMINGO DO TEMPO COMUM

LITURGIA DA PALAVRA

1ª Leitura: Zc 9,9-10

Salmo: 144 (145)

2ª Leitura: Rm 8,9.11-13

Evangelho: Mt 11,25-30

 

Caros irmãos e irmãs em Cristo! Paz e Bem!

Neste domingo a Palavra de Deus nos inspira a configurar nossa vida ao Mestre Jesus, na sua “humildade e mansidão”

A Primeira Leitura são dois versículos do livro do Profeta Zacarias (Zc 9,9-10). O texto historicamente é ambientado no século II a.C., quando os gregos exerciam o reinado no mundo. Depois do exílio da Babilônia em 586 a.C., nem em Israel (reino do Norte) e Judá (reino do Sul) houve reis. O governo havia passado aos sacerdotes, colaboradores dos Imperadores. Lembremo-nos aqui dos saduceus, que exerciam o sacerdócio no Templo, e ao mesmo tempo colaboravam com os gregos e depois com os romanos na condução do povo.

Compreender primeiramente o sentido literal do texto, como nos ensina a Igreja, é ser fiel à ‘letra do texto’, para depois passar para o sentido teológico-espiritual-pastoral. Abrimos nossa reflexão com o livro do profeta Zacarias (primeira leitura), já ao início, v. 9: “Alegra-te, Cidade de Sião; Rejubila Jerusalém”: o significado desta expressão é que Israel é tratado como esposa de Javé. E, por isso, o motivo da alegria: é o Esposo que vem ao encontro da esposa, desolada e abandonada, Jerusalém, cidade símbolo, para o povo da Antiga Aliança.  Em outras palavras, a atitude de espera da Cidade de Sião, do povo de Jerusalém, cidade construída sobre um monte, não é a de um rei simplesmente humano, mas de um rei-Messias. Este Rei-Messias é “justo e vitorioso”, diferente de outros reis iníquos de Israel. Vem “humilde, montado em um jumentinho”! Os cavalos e carros, como citados no v. 10 obtinha-se comerciando com potências estrangeiras como o Egito. O profeta os condena, porque são símbolo da força militar. Já o Rei-Messias, que vem montado em um jumentinho, indica seu serviço à humanidade: sua humildade destrói as “armas de domínio” e anuncia um novo tempo, repleto de paz (v. 10).

Esta figura do Rei-Messias, montado em um jumentinho, mensageiro da paz e dos novos tempos aparecerá no Novo Testamento quando da sua ‘entrada em Jerusalém’ para realizar o caminho da paixão e morte, conforme proclamamos no ‘domingo de Ramos’.

O Evangelho deste final de semana (Mt 11,25-30) é também proclamado na Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, no Ano A da Liturgia da Igreja (quando se dá prioridade ao Evangelho de Mateus). Para bem compreender este Evangelho precisamos olhar bem o seu contexto, fazendo um breve percurso por esta obra de Mateus: Jesus-Messias anuncia o Reino através de uma catequese discipular (Sermão da Montanha: Mt 5–7); concretizando as obras do Reino (narrativa das Dez Curas de Jesus: Mt 8–9) e constituindo e enviando os apóstolos em missão (Sermão Missionário: Mt 10). O capítulo 11 e 12 de Mateus, na sequência, falam da dificuldade de Jesus em ser aceito. Podemos constatar ao início do capítulo 11, no versículo 3, quando os discípulos de João Batista perguntam à Jesus: “És tu aquele que deve vir, ou devemos esperar outro?”. Jesus faz uma catequese a eles sobre como o Reino anunciado por ele vem realizado. Após isto, Jesus se ‘lamenta sobre a não acolhida da boa-nova’ que ele veio anunciar (Mt 11,20-24). As cidades da Galileia influenciadas pela mentalidade dos escribas e fariseus, não entendem e não acolhem Jesus e o Reino que ele vem pregar e realizar.

Após este ‘pequeno-longo’ (sic!) trajeto entendemos a passagem de hoje que é dividida em três partes:

Primeiro (vv. 25-26) Jesus, ‘louva o Pai porque escondeu o mistério do Reino aos sábios e entendidos e os revelou aos pequeninos’. Quem são os sábios e entendidos? São os fariseus e escribas, que orgulhosos do seu conhecimento da Lei, não aceitam o ensinamento de Jesus. E quem são os pequeninos? São a gente simples, que no caminho de busca e de abertura às Palavras e Obras de Jesus, deixam-se conduzir pela Boa-Nova.

Depois, uma segunda parte, o v. 27 demonstra qual o conteúdo essencial desta Boa-Nova de Jesus. Esta se constitui em “conhecer” Jesus! É importante perceber que o verbo ‘conhecer’ é frequente neste versículo: isto porque somente Jesus é capaz de revelar o rosto do Pai. Pelo motivo de que somente o Filho conhece o Pai e o Pai conhece o Filho. Somente quem tem intimidade com uma pessoa é capaz de dizer verdadeiramente quem ela é. E assim é Jesus: ele tem intimidade com Pai, porque Dele veio e, portanto, tudo o que ele anuncia e realiza revela o rosto amoroso e misericordioso do Pai.

Na terceira parte, os vv. 28-30, Jesus chama ao seguimento: “Vinde a mim…”. Seguir Jesus, tornar-se seu discípulo, não é viver sob um ‘jugo e um peso’! Os fariseus e escribas compreendiam que tornar-se discípulo era tomar o ‘jugo e o fardo da Lei’! Para Jesus não. O seu jugo, ou melhor dizendo, a sua Pessoa, permite-nos ‘descansar’. Não no sentido de viver em um ‘berço esplêndido’! Isto porque Ele nos ajuda através do seu maior dom, o Espírito, a viver a vida nova, a segui-lo com liberdade e leveza. Neste sentido, Ele se autoproclama ‘manso e humilde de coração’. Duas palavras que se entrelaçam: a ‘mansidão’ que pode também significar de acordo com o texto original: bondade, doçura, gentileza. E humildade que no grego (língua original do evangelho) pode significar também modéstia, pequenez e mesmo em alguns momentos é traduzido como ‘disciplina’ (como em Fl 4,12). Humildade não é humilhação, mas modéstia e disciplina. É saber colocar-se no ‘justo lugar’ (aqui creio que está o significado de pequeno). É este o lugar que encontramos no Coração de Jesus! Conforta e alegra, mas também educa para o seguimento.

A segunda Leitura é tirada da Carta aos Romanos 8,9.11-13. Paulo que ao final do seu período de evangelização, escreve à comunidade de Roma, e de certa forma à todas as suas comunidades, um testamento espiritual. Não como a Segunda Carta à Timóteo, que é um testamento final. Aqui um testamento, de como ele, apóstolo escolhido por Cristo, entende o Plano Salvífico de Deus. Se você acompanhar os primeiros quatro capítulos, perceberá que Paulo fala de como o pecado criou raízes no coração humano e o aprisionou. Depois no capítulo quinto, o Apóstolo, continuando sua reflexão demonstrando como a misericórdia de Deus salvou a cada um de nós desta realidade escravizadora do pecado, pelo envio do seu próprio Filho. O capítulo oitavo proclamado neste final de semana é o ponto alto da Carta: ‘O Espírito foi enviado por Cristo à cada um de nós’! Ele habita nosso interior e, portanto, é o que nos move a viver a Vida Nova de Cristo. Não estamos mais escravos dos “desejos e instintos” do pecado (vida segundo a carne), mas livres em Cristo, porque ele nos concedeu este ‘princípio de amor e vida nova’, que nos move no Seu seguimento. Toda nossa vida, seja na sua dimensão corporal, psicológica, intelectual e espiritual deve estar movida pelo Espírito de Cristo!

No Coração de Cristo encontramos Luz, Força e Graça para ‘repousar’ quando necessário; e anunciar com fortaleza e seguir quando for preciso!

Abençoado domingo!

Pe. Claudio Roberto Buss,scj

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