SETEMBRO: MÊS DA BÍBLIA

Fiel à tradição que já se mantém há mais de meio século, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, através de sua Comissão para a Animação Bíblico-Catequética, celebra, mais uma vez, o mês da Bíblia. Esta bem sucedida iniciativa da Igreja no Brasil, por certo, vai de encontro ao desejo do Concílio Vaticano II, de que a Palavra de Deus seja mais amplamente difundida e, assim, conhecida e acolhida no coração de cada crente. Diz a Dei Verbum: “deste modo, pois, com a leitura e estudo dos livros sagrados, ‘a palavra de Deus se difunda e resplandeça’ (2 Ts 3,1), e o tesouro da revelação confiado à Igreja encha cada vez mais os corações dos homens. Assim como a vida da Igreja cresce com a assídua frequência do mistério eucarístico, assim também é lícito esperar um novo impulso de vida espiritual, se fizermos crescer a veneração pela palavra de Deus, que ‘permanece para sempre’ (Is 40,8; cf. 1 Pd 1, 23-25)” (DV 26).

Seguindo a praxe de intercalar anualmente livros do primeiro e do segundo testamentos, após a leitura e reflexão da epístola paulina aos Gálatas, empreendida no ano precedente, a proposta para este ano é a de um recurso ao livro de Josué. De marcada tradição deuteronomista, esse livro, até pouco tempo considerado quase comumente como parte de um possível “hexateuco”, continua a narrativa, inaugurada na Torah, da história do povo eleito de Deus, agora já diante da conquista da terra que, por Ele, fora-lhe prometida.

Antes de adentrar propriamente no conteúdo do livro, convém fazer referência à “vocação” de Josué, conteúdo dos versículos 12-23 do capítulo 27 de Números. Neles, lê-se que, favorável às preces de Moisés, “para que a comunidade de Iahweh não seja como um rebanho sem pastor” (Nm 27, 17b), Iahweh pede que se imponha a mão por sobre Josué, em uma atitude de eleição e consagração. Nessa perícope, Josué é definido como “homem em quem está o Espírito” (Nm 27, 18).

 Com a morte de Moisés, narrada no capítulo 34 do Deuteronômio, apesar de que “em Israel nunca mais surgiu um profeta como Moisés” (cf. Dt 34, 10), Josué assume, em função daquelas eleições e consagração divinas, a difícil missão de liderança do povo da aliança. De acordo com o que se lê no Deuteronômio, “Josué, filho de Num, estava cheio de espírito de sabedoria, porquanto Moisés lhe impusera as mãos. E os israelitas lhe obedeceram, agindo conforme Iahweh tinha ordenado a Moisés” (Dt 34, 9).

Dito isto, convém, agora, apresentar um possível esquema do livro de Josué: segundo boa parte dos comentadores, poder-se-ia dividir Js em quatro partes: a primeira, entre os capítulos 1 e 5 (aqui, narra-se a condução do povo no ingresso à terra prometida); a segunda, entre 6 e 12 (as batalhas travadas entre os israelitas e os cananeus, ou melhor, entre o próprio Iahweh e estes últimos); a terceira, entre 13 e 22 (o maior bloco, destinado à divisão da terra prometida entre as doze tribos de Israel, começando por Manassés, Gad e Ruben e, em seguida, as demais); e, por fim, a quarta, os capítulos 22 e 24 (nesta seção do livro, faz-se a recordação dos feitos de Deus e algumas considerações finais ao povo, semelhantes às de Moisés, ao final do Deuteronômio).

Merece destaque a passagem do Jordão, semelhante àquela do Mar Vermelho, por Moisés (cf. Ex 14). Igualmente importantes são as conquistas de Jericó (cf. Js 6), de Hai (cf. Js 8) e de Gabaon (cf. Js 9). Ademais, alguns motivos literário-teológicos recorrentes são: a recordação dos feitos de Deus em favor do povo (cf. 23,3.9; 23,4; 24, 2-10; 24, 11-13); a renovação da Aliança, expressa na celebração da Páscoa e na ênfase na prática da circuncisão (cf. cap. 5); as bênçãos e maldições para quem acolhe ou rechaça o compromisso com Iahweh.

De modo menos evidente, mas estão presentes, também, os temas da hospitalidade, a julgar pela conduta de Raab; e o das sempre desejáveis unidade e harmonia do povo, manifestas na conquista de Jericó. Em todos os casos, o livro presentemente estudado recorda a importância da fidelidade à aliança com o Senhor e dedica-se, à exaustão, ao tema da terra, realização concreta da promessa de “Adonai teu Deus”.

Também o povo santo de Deus que caminha no “hoje” da história, tantas vezes, vê-se perdido, em face de hostilidades e incertezas. Também ele adentra nas “terras” que o Senhor lhe promete, mas parece, muitas vezes, não encontrar o “leite e mel” de que precisa. Josué (ou Yehoshua, ou, ainda, na outra variação possível: Jesus), no entanto, recorda-nos que “Deus salva”. A exemplo de Josué, devemos guiar-nos pela observância da Lei, crendo que a promessa de Deus há de se cumprir e, como o expressa o lema escolhido para esse mês da Bíblia, “o Senhor, teu Deus, estará contigo por onde quer que vás” (Js 1, 9).

 

Fr. Renato Vieira Lima, scj

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